Dezembro, Elaine Cesar, 42 anos, grávida de 5 meses de Rudá...
Após separação litigiosa, recebeu de um oficial de justiça um documento com acusação de PEDOFILIA. Poucos dias depois, descobriu um câncer...Diagnóstico: Linfoma Não Hodkin das células T, num estágio avançado.
Acusada de abusar sexualmente de seu filho Théo com 3 anos de idade, também foi acusada de ser viciada em drogas...
A acusação foi feita pelo seu ex-marido, Rafael Gonçalves e aceita imediatamente pelo tribunal de Justiça de São Paulo seguindo o "código" que protege a criança dos pais pedófilos, imediatamente dando a guarda para o "autor do processo", ou seja, o Sr Rafael Gonçalves.
Por trabalhar no Teatro Oficina, um desembargador deste mesmo tribunal, decidiu que ela não era capacitada para criar seu filho.
Théo foi embora para Brasília com o pai.
Via seu filho de 15 em 15 dias, as visistas eram monitatoradas, não podia pernoitar...Algumas vezes ela ia a Brasília ou ele vinha até São Paulo...
O sofrimento de Elaine era tamanho, entre uma sessão ou outra de quimioterapia, contava os dias para ver seu pequeno Théo.
A cada vez que o encontrava, vivia intesamente aqueles momentos maravilhosos como se fossem os últimos de sua vida...
Fred, marido dela, escolheu viver todos esses momentos com ela...Vejamos publicação no blog criou. ( http://elainecesar.blogspot.com/2011/02/escolhas.html )
Escolhas.
Viver ao lado de alguém com câncer, é uma escolha.
Viver ao lado de uma mulher distante do filho e lutando desesperadamente pela guarda dessa criança, é uma escolha também.
Viver um processo litigioso de separação de um casal e ser acusado também de barbaridades, é uma escolha.
Fred escolheu. E estamos juntos desde o primeiro dia em que decidimos viver esse amor.
É um vento. Um vento bom que sopra numa praia.
É um encontro intenso.
Vivemos hoje uma tormenta que só nos une.
Um momento que poderia ser passageiro se transformou numa semente de uma família cheia de sonhos.
Fred pôde escolher. E escolheu estar ao meu lado.
Por muitas vezes tentei convencê-lo que toda esse pesadelo pertencia a mim.
Ele esta sendo atacado por uma pessoa que praticamente não o conhece. Hoje tem que se defender de calúnias por causa desse agressor.
Um monte de mentiras que poderiam ter levado a prisão, e que poderiam ter prejudicado profissionalmente em sua carreira de ator.
Fred escolheu não partir.
Sinto que ele não só me acompanha, mas vive o câncer também.
Tem uma alegria que me ilumina e me enche de energia.
Não é fácil ser acompanhante. Não é fácil ser internado por 40 dias e não ter nenhuma doença. Fred esteve lá. Todo o dia ao meu lado, revezava com minha irmã algumas noites, mas sempre ao meu lado.
Me dava banho. Fez todos os cortes dos meus cabelos. Transformou cada momento dramático em situações engraçadas com bem menos peso. Se tornou o queridinho das enfermeiras, enfermeiros e médicos.
Hoje lida com as minhas crises, minhas recaídas de uma forma que só ele consegue me recolocar no caminho positivo dessa cura.
Me faz sentir linda, mesmo estando careca e com o rosto magro e sem viço.
Cuida da minha vaidade, do meu desejo, do meu amor.
Nossa atração um pelo outro não diminui em nada. Isso me mantém viva.
É o primeiro a levar as patadas de uma fúria e incompreensão que as vezes me domina. Ele me enfrenta e faz ver de como estou sendo injusta naquele momento. Me faz parar, olhar para aquilo que estou reclamando e ver que estou errada, com isso evitamos um inferno.
Por mais forte que a gente esteja, o doente depende das pessoas que estão por perto. As vezes em tarefas práticas e as vezes mesmo no silêncio. Sempre fui muito independente , essa dependência me mata. Preciso aprender a “pedir” e isso me deixa em situações limites.
As vezes sei que não preciso sempre ter alguém comigo em todo o tratamento. Fred se não pode ir comigo, pede que minha irmã me acompanhe para que eu NUNCA esteja sozinha. Sei que posso me virar, estou dirigindo e sem enjôos posso ter uma vida normal. Fred não pensa assim, sabe que um crise vem de repente e quando vem caio rápido, penso que tudo não vai dar certo e uma vontade de desistir imensa me toma conta.
É desse momento que ele me protege o tempo todo.
Me deixa longe da morte.
Fred não é fácil.
Não guarda rancor. Resolve.
E pra mim essa é a maior qualidade.
Fred e meu filho se deram bem desde do primeiro encontro. Eles ficaram amigos de cara. E foi esse encontro que me aproximou de Fred. Ele tem uma maneira linda de lidar com crianças, seu jeito moleque traz muita identificação e muita brincadeira, logo conquista a molecada.
Nada vai conseguir destruir essa relação. Ela já existe.
Escolhemos viver juntos. Escolhemos o amor e é esse amor que nos alimenta e que nos mantém nessa batalha. Fred me apóia incondicionalmente. Leva bofetadas vindo de um ódio e de um ciúme absurdo e não se abala, por nenhum momento tentou desistir. Ouvimos, lemos cada dia mais e mais acusações, hoje já não tenho nem vontade de responde-las, é uma guerra que parece que não vai acabar. Esse ódio todo deve ter transformado o pai do meu filho que parecia ser um cara de luz, talvez hoje nem mais o reconheça na rua.
Descontamos tudo isso em momentos com o Théo que sempre o viu como “amigão”. Meu filho e todos em volta sabe bem que Fred jamais ocuparia ou tentaria ocupar o lugar do pai. Fred tem 2 filhos lindos que são fascinados por ele. Estamos esperando Rudá que é aguardado por tanta gente e com tanto carinho, principalmente por Théo que o enche de mimos e já mostra que vai ser o melhor irmãozinho do mundo.
Já me sinto preocupada em saber que esse menino vai ser muito mimado.
Guerreiro já sabemos que sim, pois segue firme e forte na minha barriga e tomando toda essa quantidade de droga da quimioterapia.
Em outubro de 2011, Elaine conseguiu reaver a guarda de Théo na justiça. Théo voltou para casa.
Ela fez o transplante de medula e tudo estava indo bem.
Elaine estava cheia de vida, cheia de esperanças, vivendo feliz ao lado de Théo, Rudá e Fred, seu fiel companheiro de todas as horas... Como disse ela em seu blog, estava parecendo uma galinha com seus filhinhos debaixo de suas asas. O retorno de Théo a encorajou. Aquele momento todo, representava para ela, o recomeço.
Seu último post no blog foi em dezembro de 2011, prometendo voltar a escrever logo...
Infelizmente, em janeiro de 2012, Elaine faleceu...
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